Por G1
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O frio intenso previsto para esta quarta-feira (28) e que deve durar até domingo (1°) desafia agricultores no Sul, no Sudeste e até no Centro-Oeste do país a tomar medidas para reduzir um novo prejuízo.
Geadas que aconteceram em semanas anteriores resultaram em perdas milionárias com lavouras inteiras “queimadas” pelo gelo, folhas congeladas – que, depois, ficam imprestáveis para consumo – e até o comprometimento de plantas jovens.
Algodão, milho, cana-de-açúcar, café, hortaliças diversas – principalmente as folhosas, foram vistas nos últimos dias como se tivessem sido esturricadas pelo sol ou com manchas escurecidas (veja mais imagens no fim da reportagem).
Ao menos duas cidades, Patrocínio (MG) e Santo Antônio da Alegria (SP) declararam calamidade pública por conta dos efeitos do frio nas lavouras.
Para evitar mais problemas, na véspera da nova frente fria produtores de café do Paraná decidiram enterrar os pés mais novos. A colheita de hortaliças foi antecipada, para serem conservadas em câmara fria. E as plantas mais novas foram cobertas com lona, para evitar que fiquem molhadas e, assim, congelem mais rápido.
Em Minas Gerais, um agricultor de Itajubá conseguiu ser o único a não perder as bananas com a geada na semana passada porque ensacou os cachos.
“Isso protege a banana de várias formas (…) A planta acaba sendo afetada pela queimada das flores, mas a produção não é prejudicada”, disse o secretário de Agricultura da cidade, Bruno Almeida, à EPTV.
Existem 2 tipos de geadas, explica o coordenador de produção agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Maciel Silva.
Em ambos os processos, a planta pode morrer de dentro para fora, diz Silva. Isso porque ela é composta principalmente por água e, quando este elemento está em estado sólido, acontece uma expansão do volume, o que, por sua vez, quebra a sua parede celular.
É o mesmo caso de quando se esquece uma garrafa cheia de água no congelador: ela estufa e pode estourar. No caso da planta, o tecido dela, seja a folha ou a fruta, por exemplo, vai morrer.
Ainda que o cultivo não seja totalmente perdido por causa da frente fria, o dano ocorrido diretamente na folha reduz o seu potencial de produção.
A razão disto é que o gelo diminui a capacidade de fotossíntese da planta, o que atrapalha transformar a luz solar em energia, afetando diretamente a quantidade de frutos a serem produzidos, diz Silva do CNA.
Além de comprometer folhas e frutos, a geada pode afetar até plantas que estão ainda em crescimento e causar problemas no longo prazo.
A banana, por exemplo, “é uma planta que leva muito tempo para se formar e desenvolver, na média de pelo menos 14 meses, para a pessoa ter uma colheita mensal, (o produtor) precisa ter bananas de vários estágios, que acabaram de nascer, outras com cinco, seis, sete meses, para ter colheita constante, e a geada queimou tudo”, descreveu o secretário de Itajubá (MG), Bruno Almeida.
O frio que atingiu a região do Sul de Minas na semana passada prejudicou 70% das propriedades que produzem a fruta em Itajubá. “Agora todos os sistemas voltaram para quase negativo, vai ter que cortar todas essas bananas, voltar elas pro chão, para que elas possam soltar broto novo e voltar a produzir em pelo menos 14 meses”, explicou.
Geada não é novidade
Maciel Silva, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz que a ocorrência de geadas não é novidade no Brasil. Ela afeta, principalmente, as regiões Sul e partes do Sudeste, como o Sul de Minas Gerais e São Paulo.
Com a evolução da agricultura e dos sistemas meteorológicos, hoje em dia existem indicações sobre o que plantar e onde, a partir do “zoneamento agrícola de risco climático” do local, que mensura a probabilidade destes eventos acontecerem na região.
De acordo com Silva, geadas como as observadas atualmente não acontecem todos os anos. Quando elas ocorrem, pegam o produtor de surpresa. A razão é por elas serem mais intensas do que o esperado e por, em muitos casos, não serem previstas na época do plantio.
Com as geadas que aconteceram até agora, é possível observar um aumento dos preços das hortaliças. É o caso da alface, que já está 10% mais cara do que na semana anterior ao fenômeno, relata Silva.
Para outros produtos, o prejuízo pode chegar ao consumidor mais para frente, como o café, que já tem 70% da safra atual colhida, portanto, os frutos perdidos serão sentidos apenas no ano que vem.
Silva conta que, devido à bienalidade do grão, 2021 é um ano de déficit de produção e a recuperação era esperada para 2022. Com as perdas, pode ser que essa expectativa não seja atendida. Mas, segundo o coordenador, apenas em maio do ano que vem isso se tornará uma certeza.
Depois que a geada passou não tem muito o que fazer, mas se a previsão do tempo mostrar que ela ainda vai acontecer, existem alguns métodos que podem ajudar.
Para o caso da geada branca, quando a umidade do ar está elevada, o coordenador de produção agrícola da CNA, Maciel Silva, diz que irrigar pode ser uma solução.
A lógica dessa medida é que, no caso deste tipo de congelamento, o solo é aquecido durante o dia e retém calor; durante a noite, este calor começa a ser sequestrado pela atmosfera.
Quando o teor de umidade do solo está alto, a água, por ter um potencial de reter muito mais calor, não permite que a plantação seja resfriada. É por este mesmo motivo que, ao colocarmos o pé na piscina em um dia frio, a água pode parecer um pouco mais quentinha.
O produtor rural, Derli Lissarassa, que possui uma propriedade em Dourados, na região sul de Mato Grosso do Sul, tentou a técnica em sua lavoura no fim de junho, mas não foi o suficiente para impedir o congelamento.
“Comecei durante a noite, só que, quando foi 3 horas da manhã, eu vi que a água batia naquele gelo e não estava adiantando, não estava dando resultados. Tudo ia para o comércio da cidade e também para um projeto do governo, que faz a distribuição. Eu imaginava o frio, mas, não tanto como foi dessa vez”, afirmou ao G1 na época.
Por G1