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Cientista defende que a velhice seja tratada como doença a ser combatida

“Se não houver esse reconhecimento, a indústria farmacêutica não se interessará em desenvolver novas drogas”, diz Nir Barzilai.

Há alguns meses, houve grande polêmica envolvendo a iniciativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) de incluir a velhice na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, conhecida como CID. Na verdade, a decisão havia sido tomada por consenso em 2019, para entrar em vigor no início do ano que vem, mas agora, na reta final para sua implantação, setores ligados à longevidade passaram a temer que o enquadramento do envelhecimento como “enfermidade” só aumente o preconceito existente.

O blog é um defensor da causa da longevidade e combate tenazmente qualquer tipo de discriminação, por isso me sinto à vontade para trazer o assunto de volta à pauta. É importante contextualizar que há um movimento liderado por cientistas e pesquisadores por trás da decisão da OMS. Esse grupo advoga que somente mudando a classificação haverá mais investimentos para prevenir e curar enfermidades relacionadas à velhice. Trocando em miúdos: visto como “doença”, haverá medicamentos e tratamentos específicos para o envelhecimento que movimentarão a indústria farmacêutica e ampliarão a cobertura dos planos de saúde. Retomo a discussão porque ela também se fez presente no oitavo encontro do ARDD (Aging Research & Drug Discovery), realizado na semana passada.

O evento reúne estudiosos e instituições engajados no desenvolvimento de drogas para tratar questões associadas à idade avançada. Um dos principais convidados era o médico e pesquisador Nir Barzilai, diretor do Centro de Pesquisa sobre o Envelhecimento do Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, que se dedica a estudar centenários e como seus genes os protegem contra problemas cardiovasculares, diabetes e Alzheimer. O doutor Barzilai costuma dizer que o pior cenário é a longevidade com um longo período de moléstias: “temos que conseguir viver mais com menos anos de enfermidades”. Defende veementemente que as doenças do envelhecimento sejam reconhecidas como uma condição que pode ser prevenida, e não como algo natural para quem é idoso. “Se não houver esse reconhecimento, os planos de saúde não pagarão por novas terapias para seus usuários, nem a indústria farmacêutica se interessará em desenvolver novas drogas”, resumiu.

Ao argumentar que a velhice tem que ser vista como um alvo a ser atacado, enfatiza que o objetivo é que os indivíduos se tornem centenários saudáveis, e não pacientes às voltas com um quadro de fragilidade e limitações. Acrescentou que os profissionais de saúde deveriam ser mais abertos à gerociência e usou, como exemplo, a metformina, substância que é utilizada para controlar o diabetes mas que tem múltiplos efeitos benéficos além do controle da glicose. “A metformina é barata e utilizada há décadas. Atua em todos os marcadores do envelhecimento, aumentando a proteção contra doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e câncer. É preciso rever também a utilização de medicamentos já existentes”, concluiu.

Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro

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