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O instrutor de caiaque Renan Cunha Alves virou réu no processo da morte por afogamento de Adersson Freitas Nascimento Filho, adolescente de 15 anos. Além do jovem morto, o instrutor virou réu por homicídio tentado contra outros dois adolescentes. O caso aconteceu em agosto de 2024 na Praia do Náutico, em Fortaleza. O corpo do jovem foi encontrado dois dias depois do desaparecimento.
O afogamento de Adersson aconteceu após ele e mais dois amigos ajudarem o instrutor a empurrar o caiaque para o mar. Depois, Renan teria mandado o trio voltar nadando para a Praia do Náutico, de onde saíram, mesmo com os adolescentes afirmando que não sabiam nadar.
A denúncia do Ministério Público (por homicídio tentado e consumado) foi aceita pela Justiça do Ceará no último dia 4 de setembro. O entendimento do órgão de acusação é que Renan assumiu o risco da morte dos três jovens após obrigar eles a voltarem à praia nadando e sem colete salva-vidas — item que foi fornecido pelo instrutor apenas ao grupo que pagou pelo passeio. Além disso, ele teria se omitido do dever de zelar pelas vidas das pessoas que estavam na embarcação.
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Dois adolescentes conseguiram se salvar — um nadando até a praia e outro ficou agarrado a uma pedra, e foi resgatado depois. No entanto, Adersson morreu tentando chegar à areia. O corpo dele foi encontrado na Praia do Mucuripe, também no litoral de Fortaleza.
Conforme o MP, as vítimas argumentaram que não sabiam nadar adequadamente, mas o réu respondeu, de forma irônica, que eles “nadassem no estilo cachorrinho”. O MP do Ceará disse ainda que um dos adolescentes sequer chegou a embarcar propriamente, pois ficou boiando e se segurando no casco do caiaque.
“A decisão de obrigar as vítimas a lançarem-se no mar demonstra um elevado grau de aceitabilidade do resultado morte. Há uma combinação de circunstâncias: o réu permitiu o acesso indevido de passageiros na embarcação; o réu não forneceu coletes de flutuação para as vítimas; o réu determinou que as vítimas desembarcassem ainda em alto-mar e retornassem a nado em uma distância elevada, mesmo tendo ciência de que duas das três vítimas teriam dificuldades de cumprir o ordenado. Em suma, o réu não observou o dever de salvaguarda da vida humana”, destacou a denúncia do MP.
Uma ligação telefônica foi o último contato entre a mãe e o adolescente Adersson Freitas Nascimento Filho.
Segundo a mãe da vítima, a empregada doméstica Márcia Maria Lima Caetano, o jovem tinha o hábito de ir à praia com os amigos. A última interação entre eles foi quando ela ligou para o filho na tarde do domingo (dia em que ele desapareceu), por volta das 15 horas, quando ele já estava na Praia de Iracema.
“Eu disse: ‘Adersson, tu vem pra casa cedo porque amanhã tu vai ter aula’. Aí ele só disse assim: ‘Relaxe, vai dar certo’. Pronto, foi a última vez que eu ouvi a voz dele”, contou a mãe em entrevista à TV Verdes Mares.
As buscas pelo adolescente foram realizadas pela Companhia de Mergulho do Corpo de Bombeiros Militar.
Família do adolescente que morreu afogado em Fortaleza faz reconhecimento do corpo — Foto: Kilvia Muniz/TV Verdes Mares
Segundo Márcia Maria, a notícia de que um corpo do filho havia sido encontrado, na manhã do dia 6 de agosto, chegou quando ela se deslocava para a praia para acompanhar mais um dia de buscas.
O corpo havia sido encontrado na areia por volta das 7 horas da manhã, nas proximidades do Mercado dos Peixes, na Praia do Mucuripe. Ela e outros familiares de Adersson foram até a sede da Perícia Forense do Ceará para realizar o reconhecimento do corpo.
“A gente tinha esperança de encontrar ele ainda com vida, mas infelizmente Deus levou”, afirmou a mãe. Ela disse ainda que o filho não praticava aulas de caiaque.
Corpo de jovem de 15 anos que desapareceu no mar foi encontrado próximo à Praia do Mucuripe — Foto: Arquivo/SVM
A empregada doméstica já tinha perdido outro filho, que tinha 16 anos quando faleceu em agosto de 2017. Adersson foi sepultado dia 7 de setembro, no Cemitério Parque Bom Jardim, em Fortaleza.
A escola Professora Adalgisa Bonfim Soares, do bairro Conjunto Esperança, publicou uma nota de pesar pelo falecimento de Adersson. “Nossas condolências aos familiares e amigos por essa perda irreparável”, diz a nota.
Bombeiros fizeram buscas por adolescente que desapareceu no mar da Praia de Iracema, em Fortaleza. — Foto: Brenda Albuquerque/ SVM
Após audiência de custódia, o instrutor de caiaque foi solto no dia 5 de agosto. Ele havia sido autuado em flagrante por tentativa de homicídio na tarde do dia 4, tendo sido conduzido até o 2º Distrito Policial por uma equipe do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas.
No Auto de Prisão em Flagrante, ao qual o g1 teve acesso, o instrutor teria solicitado que os jovens deixassem a embarcação para não levar multa.
“Os autos revelam que adolescentes estavam na canoa havaiana guiada pelo custodiado, que teria ordenado a saída dos menores para não sofrer multa, assumindo o risco do fato delituoso”, diz um trecho do documento.
Durante a audiência, a juíza de direito restituiu a liberdade do instrutor mediante o cumprimento de medidas cautelares pelo prazo de dez meses.
Por g1 CE