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Apontado como possível local de origem do apagão, Ceará tem boom na geração de energia no mês de agosto

Temporada de ventos mais fortes aumenta produção de energia eólica, principalmente entre agosto e outubro. Incremento é de cerca de 130% na energia eólica gerada no estado.

O Ceará contribui com a produção de energias eólicas e solar, auxiliando a matriz energética do Brasil — Foto: GettyImages

O Ceará contribui com a produção de energias eólicas e solar, auxiliando a matriz energética do Brasil — Foto: GettyImages

A produção de energia eólica mais do que dobra no Ceará no segundo semestre de todos os anos. Isto porque, entre agosto e outubro, acontece o período de ventos mais fortes no Nordeste. Em 2022, o aumento da energia eólica gerada no estado no segundo semestre foi de 117% em comparação com o primeiro semestre.

Uma sobrecarga no Ceará foi identificada como um dos motivos para o apagão que ocorreu nesta terça-feira (15) e que atingiu quase todo o território brasileiro, conforme anunciado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Este problema ocorrido em uma linha de transmissão de alta capacidade teria colapsado o sistema da região. Entretanto, ainda não há mais detalhes sobre o tipo de falha ocorrido no estado e que afetou boa parte do Brasil.

Um outro evento, também em local ainda não identificado pelas autoridades, teria acontecido ao mesmo tempo. Segundo o ministro, esse provável segundo evento pode ter ocorrido na região da reserva do Xingu, na região amazônica.

Uma das contribuições do Ceará para a produção de energia no Brasil é a gerada a partir da força dos ventos. Os picos de geração da energia eólica, registrados pela Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), coincidem com a temporada em que os ventos estão mais fortes e constantes na região.

Geração de energia no Ceará em 2022
Geração em megawatt médio (MWmed)
JaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunhoJulhoAgostoSetembroOutubroNovembroDezembro250500750100012501500
Fonte: ABEEólica

Nos últimos dias, o Ceará teve registro de rajadas com velocidade de 60 km/h no município de Araripe. A cidade faz parte de uma região de divisa com Pernambuco e Piauí, neste último onde há uma usina eólica. No Ceará, existem atualmente empreendimentos eólicos em 16 municípios.

Entre os meses de agosto e outubro, as rajadas de vento chegam a até 63 km/h no estado. Elas se caracterizam por trazer ventos abruptos, repentinos e de curta duração. Os dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Com esta produção, o Ceará é atualmente o quarto estado no ranking de maiores geradores de energia eólica. O boletim da ABBEólica mostra que o Nordeste tem quatro dos cinco estados que lideraram essa produção em 2022. Atualmente, cerca de 90% da produção eólica do Brasil está concentrada no Nordeste.

Maiores gerações de energia eólica em 2022:

  1. Bahia (24,17TWh)
  2. Rio Grande do Norte (23,20TWh)
  3. Piauí (10,29 TWh)
  4. Ceará (7,06TWh)
  5. Rio Grande do Sul (5,37 TWh)

Contribuição para o Brasil

Nos últimos dez anos, Brasil reduziu a dependência da energia hidrelétrica — Foto: TV Globo/Reprodução

Nos últimos dez anos, Brasil reduziu a dependência da energia hidrelétrica — Foto: TV Globo/Reprodução

Os picos de produção eólica do Nordeste são pontos positivos, aponta Jurandir Picanço, Consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e membro da Academia Cearense de Engenharia (ACE).

Ele explica que o aumento de cerca de 130% na produção eólica no segundo semestre chega como um complemento para a matriz energética brasileira fora do primeiro semestre, que é quando existe o maior acúmulo dos reservatórios que geram a energia hidrelétrica.

Nos últimos dez anos, dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram a redução da dependência da energia hidrelétrica: de 81% em 2013 para 57,7% em 2023 (ver gráfico acima).

Segundo aponta, foi esta contribuição do Nordeste que evitou maiores problemas em 2021, ano de escassez nos recursos hídricos.

“O Nordeste todo tem uma produção de energia renovável muito grande. A região é exportadora de energia renovável, principalmente de energia eólica, mas já tem uma boa participação de energia solar fotovoltaica”, explica Jurandir.

Ele afirma que, no Ceará, a potência instalada para geração de energia eólica é de 2,6 gigawatts, representando 1,3% de toda a energia gerada no país.

Dúvidas sobre o apagão

Para Jurandir Picanço, não houve relação da produção eólica no Ceará com o apagão da terça-feira. “O evento que aconteceu ontem se identificou como tendo sido originário no Ceará, mas não relacionado com essa produção de energia eólica”, comenta.

Ele explica que ainda há várias perguntas sem respostas para o que aconteceu. Uma delas é por que uma falha no Ceará teria alcançado uma grande área do Brasil.

“O sistema elétrico brasileiro é todo interligado. Mas tudo é feito para que, se tiver algum defeito numa linha, numa subestação, num transformador ou qualquer defeito, isso aconteça sem comprometer todo o sistema. O fato de ter comprometido grande parte do sistema não é uma consequência natural”, afirma.

Outra pergunta que ele acrescenta no momento é por quais motivos houve demora na recuperação após o apagão, que começou às 8h31. A situação foi normalizada em todo o país pouco mais de seis horas depois da falha.

Um relatório com os motivos da interrupção de energia deve ser apresentado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) até esta quinta-feira (17).

o Ceará no g1

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