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O Governo do Ceará elaborou em 2020 um Projeto de Recuperação Ambiental da Duna do Pôr do Sol, um dos pontos turísticos da praia de Jericoacoara, mas não o executou. A formação de areia, ponto de encontro de visitantes para aplaudir o poente, diminui de tamanho nos últimos anos e está desaparecendo.
Pesquisadores afirmam que o desaparecimento da Duna do Pôr do Sol está ocorrendo em razão de fatores naturais, como os ventos, as marés e o déficit de areia. Porém, o processo foi acelerado com a ação humana.
Em julho de 2020, o então secretário de Turismo, Arialdo Pinho, em entrevista ao “O Otimista”, detalhou o projeto orçado em R$ 2,87 milhões, que visava o plantio de grama, com paredes de palha, formando um corredor eólico natural proporcionando a alimentação da duna com sedimentos.
Do total do valor para recuperar as dunas de Jeri , R$ 1.217.835,48 seriam utilizados para a execução dos trabalhos na Área de Estabilização de Dunas (AED), atividade que incluiria o plantio de grama; aquisição de palha de coqueiro, seguida de implantação no solo, como se fosse uma cerca viva.
Duna do Pôr do Sol, em Jericoacoara, já chegou a ter 60 metros de altura, mas desapareceu de forma acelerada devido ao turismo — Foto: Arquivo Diário do Nordeste
Os conjuntos, chamados de Estruturas Guias de Corrente Eólica (EGCE), seriam instalados nas áreas de maior fluxo de sedimentos, redirecionando as areias na direção dos corredores eólicos existentes, até alcançarem e serem depositadas nas áreas estabelecidas no projeto, sendo finalmente transportados até a Duna do Pôr do Sol, completando o ciclo natural de transporte sedimentar existente.
Outro montante da proposta, de R$ 677.029,85, seria para a estrutura guia de corrente eólica, para o redirecionamento do vento. Para isso, seria montada uma cerca, com mantas de direcionamento e contenção. Já R$ 110.070,60 do orçamento seriam utilizados para monitoramento e R$ 59.409,90, para sinalização.
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Atrativo turístico, Duna do Pôr do Sol em Jericoacoara está quase desaparecendo. — Foto: Reprodução/Hugo Albuquerque
Um estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) destaca que as dunas costeiras exercem um grande papel ambiental, pois são responsáveis pela estabilização da linha costeira, agem como uma barreira natural contra a força das marés, temporais, ressacas, e outros fenômenos climáticos, mitigando a erosão costeira, guarnecem o lençol freático, uma vez que o solo arenoso extremamente poroso absorve muita água, e são um importante habitat para diversas espécies da fauna e da flora.
Em 2019 o g1 publicou uma reportagem sobre a diminuição da duna. Na época, pesquisas da UFC apontavam que a migração da Duna do Pôr do Sol foi incrementada a partir de 2001, “possivelmente estando relacionada aos impactos do homem, que interage com a dinâmica dos ventos e o aumento da temperatura global”, explica o técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), e doutorando na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gustavo Gurgel.
O desaparecimento da Duna do Pôr do Sol está relacionado com a ação humana, déficit de areia e processos naturais, segundo o Coordenador Científico do Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará, Eduardo Lacerda Barros.
A formação, que já chegou a 60 metros de altura na década de 1980, atualmente está reduzida a um banco de areia na faixa da praia cearense.
“Esse processo é natural. Obviamente que aí você tem questões antrópicas [ação humana], que podem acelerar, como o pisoteio, você pisando na areia, propicia uma remobilização de sedimentos na superfície, e aí mais facilmente quando esse material é levantado o vento consegue transportar, causando uma diminuição de areia”, disse Eduardo Lacerda.
Na década de 1980, duna tinha cerca de 60 metros — Foto: João Justino
Conforme o pesquisador, a Duna do Pôr do Sol faz parte de um grande sistema de dunas móveis, que tem como principais fatores para a formação a ocorrência de vento e a disponibilidade de areia, porém esse processo está sendo prejudicado pelo déficit de areia no estado.
“Os corredores eólicos, que são fundamentais para transporta essa areia em direção as dunas, não têm mais areia e a consequência disso é a perda de volume da Duna do Pôr do Sol. Daqui algumas décadas, novas dunas que estão na retaguarda do que hoje é a Duna do Pôr do Sol vão se fazer presentes nesse trecho”, disse Eduardo.
Para o pesquisador, é necessário fazer um estudo na região para trabalhar nas melhores medidas para proteção das dunas.
“Obviamente a gente precisa fazer um controle, uma gestão para uma maior preservação desses ambientes, para que a gente possa garantir que essas dunas possam continuar, mas a gente também depende de questões naturais, como a disponibilidade de areia, faz tudo parte desse processo de estudo, de monitoramento e de preservação”.
Duna do Pôr do Sol se reduziu a um banco de areia desde que passou a receber muitos turistas — Foto: Maristela Gláucia/TV Verdes Mares