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Distância entre usina de Fortaleza e cabos põe internet do país em risco, diz associação de operadoras

 

Governo do Ceará tem projeto para criar usina que remove sal da água do mar na Praia do Futuro, em Fortaleza, por onde passam cabos de fibra ótica que mantém o país conectado à internet.

Empresas de banda larga temem que obra de usina no fundo do mar de Fortaleza danifique cabos que transmitem internet para o Brasil e país fique sem conexão — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução

Empresas de banda larga temem que obra de usina no fundo do mar de Fortaleza danifique cabos que transmitem internet para o Brasil e país fique sem conexão — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução

Mesmo com mudança no projeto da usina de remoção da água do mar em Fortaleza, o projeto continua ameaçando o funcionamento da internet em todo o país, segundo o presidente-executivo da associação de operadoras TelComp, Luiz Henrique Barbosa.

Desde que o projeto foi anunciado na Praia do Futuro, por onde passam cabos de fibra ótica vindos da Europa e que abastecem a internet no Brasil, empresários temem que a estrutura seja danificada e que o país fique off-line.

A Cagece, responsável pelo projeto, diz que alterou o projeto inicial, retirando a estrutura da usina que fica no fundo do mar de perto dos cabos; ainda, o risco continua, segundo Barbosa.

“Infelizmente no ponto de vista de projeto foi atendido uma parte do pleito do pedido das empresas de telecomunicações que foi o afastamento dos dutos de capacitação de água e de emissão da salmoura na parte do mar. Então, hoje o projeto ele contempla essa distância de 500 metros dos cabos submarinos. Mas o terreno que está previsto para a construção da usina é vizinho de algumas estações de cabos marinhos. Ele está 50 metros, isso não dá e não é aceitável”, afirma.

O objetivo da usina, que tem estrutura no fundo do mar, é remover o sal da água e aumentar em 12% a oferta de água potável para a população da Grande Fortaleza.

Entenda por que empresas temem a queda da internet no Brasil por obra de usina em Fortaleza — Foto: Getty Images via BBC

Entenda por que empresas temem a queda da internet no Brasil por obra de usina em Fortaleza — Foto: Getty Images via BBC

Para entender os riscos, é preciso saber o que está sendo construído e onde:

  • Praia do Futuro, no litoral de Fortaleza, é um dos locais no Brasil mais próximos da Europa e por isso é o lugar que primeiro recebe cabos de fibra ótica da Europa; a partir da capital cearense, esses cabos vão para Rio de Janeiro, São Paulo e outros países da América Latina. Ou seja, se os cabos foram rompidos no Ceará, o serviço de internet é afetado em todo o continente.
  • estrutura da usina começa no fundo do mar, próximo aos cabos que vêm da Europa; segundo as operadoras, a proximidade gera um risco à integridade do cabeamento. A Cagece, estatal que defende a obra, diz que não há riscos após mudanças no projeto original.

Fortaleza é o ponto central dos cabos que abastecem a internet no Brasil — Foto: Globo/Reprodução

Projeto original e mudanças

Usina de remoção do sal da água do mar em Fortaleza: o fio verde representa a estrutura da usina; e os laranja, cabos de fibra ótica que garantem fornecimento de internet — Foto: Reprodução

Usina de remoção do sal da água do mar em Fortaleza: o fio verde representa a estrutura da usina; e os laranja, cabos de fibra ótica que garantem fornecimento de internet — Foto: Reprodução

Inicialmente, o projeto previa que a torre de captação de água da usina, que fica no fundo do mar, passaria sobre alguns cabos. Em um segundo momento, o local de instalação da usina foi desviado, o que continuou gerando temor por parte das empresas de internet (veja imagem acima).

Em um terceiro projeto, a Cagece afirma que a estrutura da usina passará a 500 metros da rede de fibra ótica (confira a imagem abaixo).

Projeto atual da usina de remoção do sal da água do mar em Fortaleza: fios laranjas representam cabos de fibra ótica; e a linha roxa, a estrutura da usina — Foto: Reprodução

Projeto atual da usina de remoção do sal da água do mar em Fortaleza: fios laranjas representam cabos de fibra ótica; e a linha roxa, a estrutura da usina — Foto: Reprodução

Com a nova mudança, segundo Neuri Freitas, diretor-presidente da companhia, qualquer risco de afetar os serviços de internet no país está descartado.

“A nosso ver, isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco, buscamos a conciliação. A gente acha que não há esse risco já que no continente todos os cabos cruzam com alguma estrutura, como rede de gás, de energia e diversas outras estruturas”, afirmou.

Mas os empresários do setor e pesquisadores discordam.

Temor de queda da internet continua

Usina terá torre submersa para captar água do mar a 14 metros de profundidade — Foto: SPE Águas de Fortaleza/Reprodução

Usina terá torre submersa para captar água do mar a 14 metros de profundidade — Foto: SPE Águas de Fortaleza/Reprodução

Apesar da distância entre a usina e os cabos de fibra ótica, o receio de deixar o Brasil off-line continua.

“A usina vai puxar água do assoalho oceânico para tirar o sal. Essa sucção vai alterar o fundo do mar, mudando a topografia da região. E, mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles”, afirma o professor de Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC) Yuri Victor Lima de Melo.

Ainda conforme pesquisadores, o risco de dano ao cabeamento é permanente: já que a usina estará sempre em atividade, e possivelmente gerando movimento no assoalho (fundo do mar).

“Mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles”, diz o professor.

Como funciona a usina

  • Captação da água no fundo do mar: a torre de captação e as tubulações são as estruturas da usina que ficam dentro do mar da Praia do Futuro. A água será captada a pouco mais de um quilômetro da costa, com torre submersa a 14 metros de profundidade. A água captada é levada a uma área de tratamento.
  • Remoção do sal: a água passa por três etapas de tratamento, até ter o sal removido. A água do mar é pressionada contra membranas, que barram a passagem das moléculas de sais. Assim, duas soluções são criadas: solvente (água) de um lado, soluto (sal) do outro.
  • Distribuição: a água sem o sal é levada a uma central da Cagece, de onde é distribuída para casas e estabelecimentos. O sal separado da água é levado de volta ao mar.

    Por g1 CE

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