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O avanço das dunas no bairro Ingleses, no Norte da Ilha em Florianópolis, causou a interdição de duas casas. O professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) João Carlos Rocha Gré explica que o fenômeno está relacionado ao vento, que faz o transporte dos grãos de areia.
Nesta segunda-feira (12), um perito vai até o local para realizar uma nova avaliação sobre a situação das residências.
A Defesa Civil Florianópolis interditou as casas na terça-feira (6) após as estruturas ficarem comprometidas com o peso da areia.
A Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram) afirma que as casas que estão naquele local são irregulares, pois estão em uma Área de Preservação Permanente (APP).
A prefeitura não informou a situação atual das famílias que tiveram as casas interditadas. Na quinta (8), a Defesa Civil disse que as famílias foram orientadas a saírem da residências e receberam atendimento da Assistência Social.
O professor Gré, que também é geólogo, explicou que o avanço das dunas se deve a dois fatores que ocorrem em Ingleses: há um banco de areia e vento forte para transportar os grãos. O banco de areia fica na Praia do Moçambique, que fica a cerca de 10 quilômetros da Praia dos Ingleses.
“Quando a maré baixa e o sol seca a areia, o vento se encarrega de levá-la para a terra. O vento Sul se encarrega de transportar, vagarosamente ao norte, em Ingleses”, explicou o professor.
Qualquer vento leva grãos de areia. O que vai determinar onde haverá mais acúmulo é a intensidade do fenômeno, segundo ele. “O vento Sul, apesar de ser menos frequente, sempre venta com mais força. Por isso, o transporte final é para o [sentido] Norte [em relação a Moçambique]”, disse Gré.
“A areia estando seca, há condição favorável para o transporte da areia. Se o vento for fraco, essa areia vai se movimentar por rolamento, grãozinho a grãozinho. Não dá pra prever o quanto de volume dessa areia vai ser transportado, vai depender da força do vento”, afirmou o professor.
Por causa disso, casas localizadas onde há o avanço das dunas tendem a sempre ter esse problema do transporte da areia.
“O que está acontecendo ali é que eles estão ocupando justamente esse setor, a frente do avanço da duna. A tendência natural é haver soterramento das edificações construídas ali”, disse Gré.
O professor explicou que o fenômeno do transporte de área para a região é um “processo natural” e acontece há 2 mil anos. “Ocorre dentro do período geológico chamado holoceno, que se iniciou 6 mil anos atrás pelo abaixamento do nível do mar. Expôs áreas marinhas com areia”.
“Depois a urbanização se deu na área do avanço do campo de dunas. Não dá certo. Há risco de soterramento. O trabalho do vento não para”, completou.
A Floram afirma em nota que as casas são irregulares. “A área afetada pelo avanço das dunas é uma Área de Preservação Permanente, como aponta o zoneamento do Município. As casas ali que são irregulares já tem processo ambiental em andamento há mais de 10 anos. Já foram autuadas, tem processo e agora o caso corre na Justiça, que vai determinar o futuro das residências”.
Ainda segundo a nota, o órgão, juntamente com a Defesa Civil municipal, acompanha e gerencia a situação causada pelo avanço das dunas no bairro Ingleses.
“Os órgãos estão alinhando as medidas de intervenção que serão realizadas, prezando a segurança dos moradores e que tenha menor impacto ambiental. A questão será levada ao Ministério Público para garantir que as medidas tomadas sejam responsáveis quanto às questões ambientais”.
A Floram afirmou que os moradores das casas interditadas pagam Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), mas que isso não é critério para tornar esses imóveis regulares.
O G1 não conseguiu contato com o Ministério Público Federal em Santa Catarina até a publicação desta notícia.
A comerciante Denise Guimarães Santana é uma das moradoras que teme perder o imóvel por conta do avanço das dunas.
“É muito triste e desesperador, mas eu acredito que alguma solução vai ser tomada e que consiga não ter um dano maior do que eu já tive”, explica.
Na casa da comerciante, a cozinha e o quarto foram “engolidos” pelos sedimentos.
Além da residência, a areia também atingiu a Servidão Fermino Manoel Zeferino, bloqueando a passagem de veículos e dos moradores. Até um muro que fazia a proteção entre a rua e as dunas caiu.
“Se não cuidar, vai ser uns três ou quatro meses e a gente vai estar com essa areia aqui na frente. A gente não quer isso, porque a gente passou muito sacrifício para construir”, afirma a moradora Maria Fernanda Lemos.
Segundo o agente da Defesa Civil Marcos Alberto Leal, uma reunião entre o órgão e a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram) está marcada para esta semana para definir os próximos passos.
“Nesse momento não há risco para outras casas. A gente até está fazendo o monitoramento constante da área, mas nesse momento não tem novos riscos”, disse.
Por Joana Caldas, G1 SC