Anderson Braga Dorneles, o ex-braço direito de Dilma Rousseff durante seus quase seis anos no Palácio do Planalto, recentemente foi nomeado diretor da Cateno, empresa pertencente ao Banco do Brasil. Curiosamente, um mês após sua contratação, o gaúcho conseguiu uma drástica redução de 93% em uma dívida acumulada com o banco desde 2016 — que já estava sendo executada na Justiça.
Durante sua atuação no governo Dilma, Dorneles possuía acesso privilegiado à petista, tendo trabalhado para ela antes mesmo de seu ingresso na presidência por cerca de duas décadas. Contudo, sua relação com a ex-presidente foi abruptamente encerrada quando surgiram notícias, no final de 2015, indicando que ele seria sócio oculto de um bar no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, reformado pela empreiteira Andrade Gutierrez para a Copa do Mundo de 2014.
Após sua exoneração em fevereiro de 2016, Dorneles, conhecido como “o menino da Dilma”, foi mencionado na delação premiada da Odebrecht em 2017, relacionado ao pagamento de uma “mesada” de R$ 50 mil. Mais recentemente, em julho de 2022, o Ministério Público do Rio Grande do Sul o denunciou por suposto envolvimento em um esquema de desvios na prefeitura de Canoas, respondendo atualmente a três ações penais.
Buscando uma nova empreitada, Dorneles tentou ingressar na carreira política em 2022, sem sucesso nas eleições para deputado federal no Rio Grande do Sul pelo Avante. Agora, afastado de Dilma e com ela atuando como presidente do Banco dos Brics em Xangai, Dorneles assume, desde 15 de agosto, a posição de diretor de Relações Governamentais na Cateno, joint venture de pagamentos do Banco do Brasil e da Cielo.
A nomeação, associada com a influência que seu partido exerce na empresa, torna-se ainda mais suspeita quando, um mês após assumir o cargo na Cateno, Dorneles firma um acordo judicial que resulta na drástica redução de 93% de sua dívida de R$ 228.732,71 para R$ 15 mil junto ao Banco do Brasil.
O empréstimo original, contraído em janeiro de 2016 enquanto ainda era assessor de Dilma, gerou uma dívida de R$ 202.210,99 e culminou em uma ação de cobrança contra o gaúcho.
Desde o início do processo, a 23ª Vara Cível de Brasília enfrentou dificuldades em notificar Anderson. Após quatro anos de tentativas frustradas, em novembro de 2022, a juíza Ana Letícia Martins Santini autorizou a citação por meio de edital.
Em 5 de maio de 2023, a sentença foi proferida: a juíza Santini determinou que Anderson Dorneles realizasse o pagamento dos valores. Três meses mais tarde, em agosto, ela ordenou sua notificação, também por edital, para liquidar a dívida em um prazo de 15 dias.
Mantendo-se em silêncio nos autos até então, Anderson Dorneles só se manifestou no processo em 15 de setembro, exatamente um mês após assumir o cargo de diretor de Relações Governamentais na Cateno.
Nesse momento, a Ativos S.A, securitizadora de créditos do conglomerado do Banco do Brasil, comunicou à Justiça um acordo com o ex-assessor, encerrando o processo que já havia sido transferido do banco para a securitizadora.
O desfecho peculiar levanta questionamentos sobre os bastidores políticos dessa transação e os muito-prováveis vínculos entre a nomeação de Dorneles na Cateno e a redução substancial de sua dívida com o Banco do Brasil.