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UPA de Morada Nova registra lotação por casos de infecção no município — Foto: Arnaldo Araújo/SVM
O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Morada Nova, no interior do Ceará, rebateu nesta quinta-feira (28) informação divulgada no dia anterior pela fábrica de calçados Coopershoes, que afirmou que água que causou infecções em mais de 700 funcionários já teria vindo da SAAE contaminada.
Conforme a diretoria do SAAE, a água fornecida à empresa é a mesma fornecida a outros bairros da cidade, mas apenas na empresa foi detectado o surto de infecção.
“A adutora responsável pela distribuição da água que chega até a fábrica é a mesma que atende diversos outros pontos, tais como bairros residenciais, comunidades e diversas escolas/prédios públicos, cujos usuários não apresentaram indícios de contaminação”, disse o órgão.
O surto de infecções começou em 14 de novembro e foi denunciado logo depois pelo g1, quando cerca de 200 funcionários da fábrica apresentaram sintomas como diarreia, vômito e febre e superlotaram UPAs e hospitais da região. Nos dias seguintes, o número de afetados ultrapassou 700.
Na quarta-feira (27), a Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa) informou que análises realizadas na água e na comida da fábrica encontraram bactérias e vírus que causam diarreia e outros sintomas semelhantes aos relatados pelos funcionários da empresa à reportagem. (Leia mais abaixo).
🧫 🦠 O laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) identificou nas análises quatro cepas da bactéria Escherichia coli e Rotavírus A. A pasta afirmou que a empresa será autuada e responderá a processo administrativo sanitário.
Após a divulgação do laudo pelo g1, a Coopershoes publicou uma nota na qual afirmava que não havia notificada oficialmente sobre os resultados das análises.
A empresa afirmou ainda que o grupo contratou uma análise independente que teria apontado que a água já teria chegado na empresa, através dos dutos da SAAE, contaminada – o que o serviço de abastecimento nega.
“É importante destacar que toda a água utilizada na fábrica, até a data em que os primeiros casos foram identificados — tanto para consumo quanto para o preparo dos alimentos — provinha do fornecimento de água pública do SAAE, o mesmo órgão que abastece também o município”, disse a empresa. “Conforme investigação paralela realizada por um laboratório contratado pela empresa, foi identificado que a água já estava contaminada antes de chegar às instalações da fábrica”, continuou.
Técnicos da Secretaria Estadual de Saúde realizaram investigação epidemiológica em campo, inspeção sanitária e entrevistas com mais de 400 funcionários da fábrica. A Sesa também coletou amostras de água, de alimentos e de material biológico de pessoas que apresentavam sintomas da infecção.
A verificação do material coletado nos alimentos constatou a existência das bactérias Bacillus cereus e Estafilococos coagulase positiva em alguns produtos. Já na avaliação da água, foram detectadas bactérias do grupo coliformes totais e Escherichia coli.
Entenda o que foi encontrado e quais os impactos desses microorganismos, conforme informações do Ministério da Saúde:
🩸 O que foi encontrado nas amostras biológicas (sangue, urina, saliva, tecidos):
Bactéria Escherichia coli: bactéria encontrada naturalmente no intestino de humanos e animais. A maioria das cepas de E. coli são inofensivas, mas algumas podem causar graves doenças transmitidas por alimentos, como é o caso da E. coli enterohemorrágica (EHEC). Os principais sintomas da doença provocada pela E. coli enterohemorrágica são cólicas abdominais severas e forte diarréia, inclusive com presença de sangue. Vômitos e febre também podem ocorrer.
Rotavírus A: um dos principais agentes virais causadores das doenças diarreicas agudas (DDA) e uma das mais importantes causas de diarreia grave em crianças menores de cinco anos no mundo.
🍽️ O que foi encontrado nos alimentos
Bactérias Bacillus cereus: bactéria que pode causar intoxicações alimentares, provocando diarreia e vômito. A transmissão pode ocorrer por meio de: consumo de alimentos e água contaminados, contato com objetos contaminados, como utensílios de cozinha, acessórios de banheiros e equipamentos hospitalares e contato com outras pessoas, por meio de mãos contaminadas e contato de pessoas com animais.
Estafilococos coagulase: pode causar intoxicações alimentares e infecções humanas.
🚰 O que foi encontrado na água:
Bactérias do grupo coliformes totais: são indicadores de contaminação em alimentos e água. A presença de coliformes totais na água indica que a água teve contato com matéria orgânica em decomposição.
Escherichia coli: bactéria encontrada naturalmente no intestino de humanos e animais. A maioria das cepas de E. coli são inofensivas, mas algumas podem causar graves doenças transmitidas por alimentos, como é o caso da E. coli enterohemorrágica (EHEC). Os principais sintomas da doença provocada pela E. coli enterohemorrágica são cólicas abdominais severas e forte diarreia, inclusive com presença de sangue. Vômitos e febre também podem ocorrer.
Funcionários relataram enjoo, dores, vômitos e diarreia
Uma funcionária da empresa que trabalha no local há três anos contou ao g1 que desde o dia 11 de novembro começaram os relatos de trabalhadores sentindo enjoos. O surto iniciou na quinta-feira, 14 de novembro.
“Quinta-feira começou um surto total: gente saindo (da empresa) de cadeira de rodas. Inclusive, vi um rato caindo em cima do bebedouro de um setor. Enfim, ratos por todo lado”
A funcionária é uma das atendidas pela UPA da cidade. Ela teve um diagnóstico de leptospirose e disse que teve dificuldade de urinar. “Notei que a água estava com um gosto estranho. Comecei a sentir dor nos rins, muita febre, dores nas pernas e nos braços, manchas vermelhas no corpo. E estou sem urinar, o que foi crucial para o diagnóstico”, relatou a trabalhadora.
Outra funcionária teve um diagnóstico de diarreia e gastroenterite de origem infecciosa.
“Passei meu horário todo bebendo água. Quando voltei do descanso, havia comentário de que havia ratos na caixa d’água. Parei de beber água. Meia-noite, comecei a sentir meu corpo todo quebrado, vomitei muito. Ainda estou vomitando, com diarreia e dor de cabeça”, contou.
Ela também está na empresa há três anos e relata que já viu ratos pela fábrica, especialmente nas esteiras de produção.
Uma terceira funcionária que aceitou falar com o g1 disse que nas últimas semanas a água da empresa apresentava cor diferente, aparentando estar suja.
“E mesmo assim tivemos que beber porque não podemos levar água de casa, eles não aceitam entrar (…) Na quinta (14), algumas pessoas não conseguiam nem chegar ao banheiro e vomitavam na porta (da empresa).”.
Um quarto funcionário foi atendido na UPA da cidade na manhã de domingo (17) afirmando sentir sintomas como febre, dor de barriga e na cabeça, vômito, fraqueza, sem vontade de comer, garganta seca e inflamada.
Ele disse que começou a sentir os incômodos na quinta-feira também, mas resolveu retornar à UPA no fim de semana quando sentiu seu estado agravar.
Por Leonardo Igor de Sousa, g1 CE