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Alunos do ensino infantil das redes municipais terão mudanças no formato de ensino com o início do segundo semestre letivo.
Em 17 das 27 capitais brasileiras, os alunos poderão voltar às aulas presenciais pela primeira vez, segundo um levantamento do G1.
Em Aracaju, Belém, Brasília (rede distrital), Campo Grande, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Macapá, Maceió, Natal, Palmas, Recife, Salvador, São Luís e Vitória, as aulas no primeiro semestre foram totalmente remotas; no próximo semestre, serão híbridas. Em Cuiabá, também será híbrido, mas o reinício será apenas em outubro. Em Porto Alegre, as aulas serão totalmente presenciais, com ida obrigatória à escola.
Além de Porto Alegre, outras duas capitais terão o retorno às aulas majoritariamente presencial na rede municipal: Belo Horizonte e Rio de Janeiro. As crianças poderão ficar em casa e ter aulas remotas.
Por outro lado, apenas uma capital vai manter o ensino 100% remoto na rede municipal, adotado também no primeiro semestre: Boa Vista.
Outras, que já adotavam o formato híbrido no primeiro semestre, vão mantê-lo no segundo: é o caso das redes municipais de Florianópolis, Manaus e São Paulo.
Três capitais ainda estavam em discussão sobre a data de retomada ou não tinham modelo de ensino determinado até a sexta-feira (30) : João Pessoa, Porto Velho e Teresina.
Apesar de a maioria das capitais ter adotado alguma forma de ensino híbrido, o modo como ele está sendo ou será executado é bastante diferente entre as capitais: várias fizeram algum tipo de revezamento de alunos.
Outras suspenderam totalmente as atividades para uma parte dos estudantes, conforme a idade – caso da rede distrital de Brasília e da rede municipal de Vitória.
Essa disparidade será mantida no segundo semestre: em São Luís, por exemplo, apenas algumas escolas municipais terão o modelo híbrido. Outras manterão o ensino 100% remoto.
Especialistas ouvidos pelo G1 pontuam o acesso à internet como um dos problemas das aulas remotas na pandemia.
O pediatra Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), lembra que muitas crianças não têm acesso à internet – e, quando têm, é só pelo celular.
“Já são situações que limitam muito essa possibilidade [de aula à distância]. As crianças precisam estar num ambiente propício para ter um ensino à distância adequado. Dar uma aula à distância não é a mesma coisa que aula presencial. Tem que ter capacitação dos professores para conseguir isso. É possível captar a atenção [das crianças] através dessas aulas? Sim, é possível, mas requer uma técnica muito mais apurada. Não é tão simples assim. Além de todos esses fatores, tem a questão do tempo de tela. Isso também é um problema, a gente sabe”, pontua.
Por outro lado, ele avalia que mesmo a volta no formato híbrido ainda é melhor do que ter um ensino completamente remoto.
“O que é melhor? Não ter nada ou ter alguma coisa com o ensino híbrido? As crianças estão extremamente prejudicadas no desenvolvimento neuropsicomotor. Por pior que seja o ensino híbrido, é melhor do que nada”, diz.
Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo do Todos pela Educação, concorda. Além da questão do acesso, ele salienta que o ensino remoto infantil tem “baixíssima efetividade pedagógica”.
“Mesmo que tenha baixa efetividade, cumpre um papel relevante de manutenção do vínculo com o professor, com seus pares. Por isso que é importante lançar mão disso num cenário em que as escolas não podem abrir. É a melhor opção. Mas tem que entender que o ensino remoto é uma solução emergencial – dura um tempo limitado. No Brasil, estamos falando de quase 16 meses de escolas fechadas”, lembra.
Mas, no caso dos alunos menores, essa manutenção do vínculo remotamente não é tão eficaz, explica.
“Do ponto de vista dos [alunos] menores, é claro que a solução remota tem ainda menos eficácia – mesmo no que diz respeito à manutenção do vínculo. O que os especialistas indicam, mais do que soluções tecnológicas, [é que] o que deve se estimular são atividades físicas – em que a própria família possa ajudar”, diz.
A diferença nos modelos de ensino também muda se a escola for pública ou privada: nenhuma rede particular, até agora, anunciou um modelo 100% remoto para o segundo semestre – mas algumas ainda não comunicaram decisões. A maioria terá aulas híbridas; mesmo as escolas que decidiram pelo formato presencial terão que oferecer o ensino remoto.
Olavo Nogueira Filho, do Todos pela Educação, explica que os impactos da pandemia no ensino só serão conhecidos quando as crianças voltarem às salas de aula – mas que eles serão sentidos com maior intensidade pelas crianças pobres – que, no Brasil, são em sua maioria também pretas e pardas.
“Os impactos são muito heterogêneos – tem o acesso [à internet no ensino remoto], o quanto os pais conseguem apoiar – mesmo dentro de uma mesma região, mesma escola”, explica.
“O que a gente consegue mais ou menos saber das pesquisas que estão saindo, e olhando para pesquisas de outros cenários de fechamentos prolongados de escolas em função de outros contextos, como pandemias localizadas, desastres naturais e pós-guerra, é que os efeitos são de múltiplas naturezas. Não estamos falando apenas de impactos educacionais– mas de efeitos emocionais, sociais, e em alguns casos de ordem física“, afirma Nogueira Filho.
“A gente também já sabe que os efeitos são de repercussão duradoura. O melhor exemplo para materializar isso é a experiência de New Orleans, que em 2005 teve o furacão [Katrina]. Lá as escolas ficaram fechadas por 4 meses. O que aconteceu em termos de impacto? Os patamares de aprendizagem só foram recuperados depois de 2 anos. Isso mostra o tamanho do que a gente deve ter em termos de impacto”, avalia.
Por Lara Pinheiro e Carolina Andrade Santos*, G1