Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:
Apesar da escassez de vacinas, as cidades do Ceará, em geral, têm avançado na imunização contra a Covid-19. Em Fortaleza, na última sexta-feira (20), a Prefeitura concluiu a vacinação das pessoas que estavam cadastradas e têm 18 anos. Mas a fila continua para quem não compareceu na data anteriormente programada.
Desde sábado (21), só na Capital, 220 mil faltosos estão sendo novamente agendados. O não comparecimento se repete em outros municípios. Neste momento, diante da necessidade de garantir vacinação massiva, o que as cidades do Ceará podem e devem fazer?
Segundo os registros do Vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), 6,7 milhões de pessoas receberam, até quinta-feira (19), a 1º dose. Considerada a estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Estado, com 9,1 milhões de habitantes, atualmente, 73% dos residentes receberam ao menos uma dose.
Esse número da população inclui as crianças e adolescentes até 17 anos. Mas elas não começaram a ser imunizadas ainda no Estado. Até agora, dos imunizantes utilizados no Brasil, esse público só pode receber doses da Pfizer.
Neste momento de avanço da imunização, e diante de uma campanha tão diferenciada também pelo tamanho da população a ser vacinada, como os gestores têm agido e devem atuar para garantir ampla cobertura vacinal?
No Sistema Único de Saúde (SUS) não faltam estratégias para lidar com essa necessidade da imunização, já que o Brasil é referência nesse processo, que desde a década de 1970 ocorre por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI).
Profissionais da saúde ouvidos pelo Diário do Nordeste apontam que, dentre as prioridades estão:
Conforme o vice-presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems), Rilson Andrade, um dos pontos a serem destacados é o fato de os municípios só poderem avançar nas faixas etárias com o cumprimento de 75% de imunização da anterior. Portanto, para seguir, por exemplo, da população de 30 a 39 anos para a de 18 a 29 anos, a cidade precisa ter vacinado 75% desse primeiro grupo.
Ele explica que cada município adota as próprias estratégias para tentar buscar os faltosos. Algumas são comuns, como a repescagem, o estabelecimento de locais fixos para acesso de quem não compareceu na data anterior e os agendamentos de grupos mais amplos – como abertura para todos entre 20 a 59 anos.
No dia a dia, Rilson relata que muitas pessoas justificam que faltaram por conta de doenças no dia do agendamento e obstáculos no trabalho. “Temos que reforçar que é um direito do trabalhador a liberação para o momento da vacinação. As pessoas chegam a agendar, mas, por ser na semana, as empresas não liberam”, cita.
“Pode-se considerar que, devido aos anos de experiência em âmbito local, no desenvolvimento do Programa Nacional de Imunização, os governos têm aproveitado bem a rede de pontos de atenção e os profissionais de saúde para a disponibilização das vacinas”, explica o professor doutor Antônio Rodrigues Júnior, graduado em Enfermagem e coordenador do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
De acordo com ele, a ausência no dia da vacinação pode “ser encarada por diversas perspectivas”. E lista: “dificuldade no acesso às ferramentas tecnológicas para marcação do desejo de vacinar-se; no acesso aos serviços de saúde; falta de conhecimento acerca da importância da vacinação; acesso a informações errôneas sobre as vacinas, as chamadas fake news”.
Para o professor, o maior “trunfo” para o sistema de saúde cearense é aproveitar a organização construída ao longo de décadas.
“A partir da atenção primária e seus profissionais deveria ser constituída força tarefa para realização de busca ativa destes cidadãos considerados ‘faltosos’. Para além desta busca, é necessário conhecer as motivações para as faltas, com o intuito de organizar estratégias que minorem suas repercussões no número de pessoas que devem ser vacinadas”.
A doutora em Saúde Coletiva e professora do curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza, Samira Valentim Gama Lira de Alencar, reforça que, inicialmente, é necessário ampliar as campanhas educativas e estabelecer parcerias com empresas, igrejas e comércios, incentivando a adesão à vacinação.
“Além disso, descentralizar o acesso às diversas vacinas, principalmente para as segundas doses, facilitando a ida do usuário ao serviço e, em contrapartida, a adesão às doses”.Samira Valentim Gama Lira de AlencarDoutora em Saúde Coletiva e professora do curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza
Outra estratégia, opina ela, é a criação de um canal com fácil acesso e exclusivo para busca ativa de faltosos. “Os serviços de saúde ou outros serviços poderiam ofertar um espaço ou atendimento para que a população comunicasse/justificasse sobre o não comparecimento para a aplicação da vacina”, sugere.
A campanha de imunização contra a Covid-19 tem alguns diferenciais, pela amplitude e pela carência de imunizantes. Na avaliação dos profissionais da saúde, ela guarda diferenças e semelhanças com outros processos de vacinação.
“A preparação do sistema de saúde para o alcance de populações vulneráveis e de difícil acesso geográfico é um dos pontos fortes desta intrincada rede, que também é potente pelo diálogo entre governo estadual e municipais”.Antônio Rodrigues JúniorCoordenador do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Uece
De acordo com ele, o maior obstáculo continua sendo a disponibilização de vacinas em quantidade suficiente. “Os desafios de cadastramento, acessibilidade geográfica, comunicação, sempre estiveram presentes, o que exige dos profissionais de saúde e gestores do sistema organização e planejamento para lidar com eles. Neste âmbito, talvez a comunicação deva ser trabalhada com maior foco, entendendo que vivemos a era das tecnologias que nos permitem diálogos em diversas plataformas”.
O representante do Cosems, Rilson Andrade, lembra ainda que, além dos “faltosos”, há outro gargalo: as pessoas que nem se cadastraram ainda. “Uma das ideias que estavam fazendo em nosso município (Pindoretama) é a repescagem, mas para todas as pessoas. Tanto quem se cadastrou, com quem ainda não. As pessoas vão para um local e quem não se cadastrou se cadastra lá para poder ser vacinado”, cita.
A doutora em Saúde Coletiva Samira Valentim, reitera que, hoje, a campanha “se comporta com perspectivas positivas, vacinando uma grande parcela da população”, mas, acrescenta, “alguns obstáculos acabam dificultando o andamento, pois o acesso à internet ou aparelhos eletrônicos, por exemplo, acaba favorecendo as faltas”.
DIÁRIO DO NORDESTE