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Para falar de pandemia, Witzel recorre à milícia

Ex-governador do Rio de Janeiro que sofreu impeachment em abril depõe na CPI da Covid.

O que milícia tem a ver com pandemia? A princípio, nada. A não ser quando o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel explica o rolo em que seu governo se meteu e acabou em impeachment. E é justamente sobre isso que ele dever falar nesta quarta-feira (16) à CPI da Covid.

A versão que Witzel conta até hoje é a seguinte: ele e Bolsonaro viviam felizes para sempre quando, em 12 de março de 2019, a Polícia Civil do Rio prendeu o miliciano Roni Lessa no condomínio Vivendas da Barra, onde o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem uma casa. Desde então, sustenta Witzel, ele passou a ser um perseguido político.

Bolsonaro usou o procurador geral da República, Augusto Aras, e a subprocuradora Lindora Araújo para se vingar. O Ministério Público Federal, prossegue Witzel em sua defesa, o acusou sem provas de desvios de recursos da pandemia, um esquema que seria comandado por seu “supersecretário” de Saúde, Edmar dos Santos. O complô para eliminá-lo contou ainda com o “vice” traidor, hoje governador, Cláudio Castro (PL), e o presidente da Assembléia Legislativa, André Ceciliano (PT).

Este é o enredo que Witzel tem na sua cabeça. O blog adverte que a realidade é sempre mais complexa do que as versões de acusados.

Witzel sempre foi “um cara” do senador Flavio Bolsonaro (Patriota-RJ) e não do seu pai, nem da família. O clã começou começou a se estranhar com Witzel, quando ele se lançou candidato a presidente em 2022, antes mesmo de começar a governar o Rio de Janeiro. Piorou quando, em entrevista a Andréa Sadi, disse que tinha sido eleito por méritos próprios. Foi considerado ingrato.

Até aí, era mágoa. O caldo começou a engrossar mesmo quando o Ministério Público do Rio desvendou o esquema de rachadinha no gabinete do então deputado Flavio Bolsonaro, trazendo à tona um personagem que vivia nas sombras: Queiroz. Esse, sim, “um cara” de Bolsonaro, e não de Flavio. O presidente cismou que Witzel estava atuando em dobradinha com o Ministério Público do Rio para tirá-lo da eleição de 22.

Para piorar, as investigações sobre o assassinato de Marielle e do motorista Anderson avançaram e chegaram ao vizinho do presidente. Bolsonaro cismou que Witzel manipulava o inquérito para atingi-lo e chegou a antecipar que o porteiro do condomínio teria citado o nome do presidente nas investigações.

Witzel tem hoje a possiblidade de não comparecer à CPI. Está protegido por um habeas corpus do ministro Nunes Marques. Mas garante que vai. Ele sabe que é uma rara oportunidade de ter um palco para dar sua versão e, de quebra, apontar o dedo para quem o persegue. Falar talvez seja melhor do que calar.

Por Octavio Guedes

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