No cenário financeiro, o Ibovespa, o índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), registrou uma acentuada queda, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmar que não está comprometido em zerar o déficit primário nas contas públicas do governo até 2024. O registro foi feito nesta sexta-feira (27). Por volta das 13h50, o Ibovespa estava em declínio de 0,32%, atingindo os 114.404 pontos. Após as declarações de Lula, o mercado reagiu com uma queda ainda mais expressiva, chegando a 1,11%, com o índice marcando 113.505 pontos.
Lula declarou que é altamente improvável que a meta fiscal seja alcançada até 2024 e ressaltou que a meta não precisa necessariamente ser zero. O presidente argumentou que o setor financeiro demonstra excessiva avidez e que não deseja iniciar o próximo ano com cortes massivos em obras e investimentos considerados prioritários.
“Eu sei da disposição do [Fernando] Haddad, sei da vontade do Haddad, sei da minha disposição, mas queria dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos a meta, até porque eu não quero fazer corte em investimento e obras. Se o Brasil tiver um deficit de 0,5% o que que é? De 0,25%, o que é? Nada. Absolutamente nada“, afirmou o presidente durante um café com representantes da mídia.
Lula também fez uma declaração que pareceu deliberadamente discordar da postura adotada pela sua própria equipe econômica. Ele enfatizou que a meta fiscal de zero para o ano de 2024 é improvável e que não pretende cortar investimentos, argumentando que o Brasil não necessita de uma meta fiscal zerada. Essas palavras não apenas refletiram uma realidade já compreendida pelos analistas de mercado, mas também criaram uma clara discordância com as estratégias de planejamento econômico do seu governo.
Os mercados reagiram imediatamente a essas declarações. O dólar comercial, que estava em queda, subiu, a bolsa de valores entrou em uma espiral de quedas, e as taxas de juros futuros começaram a se elevar, atingindo novas máximas. Foi um cenário desafiador.
Além disso, a situação em Nova York, onde os índices terminaram o dia em forte queda, não contribuiu para aliviar a tensão dos investidores. Mesmo o Nasdaq, que chegou a registrar um ganho de mais de 1%, encerrou o dia com um modesto aumento. A desconfiança permeia o mercado, apesar de o índice PCE, a medida de inflação preferida pelo Federal Reserve (Fed) para orientar suas decisões de política monetária, estar em linha com as expectativas.
A semana que se inicia será atípica no Brasil devido ao feriado de Finados na quinta-feira, tornando-a mais curta. Entretanto, o cenário econômico promete emoções fortes. Na quarta-feira, o Fed tomará sua decisão sobre as taxas de juros nos Estados Unidos, com implicações globais significativas. No mesmo dia, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgará a nova taxa Selic no Brasil. Embora a semana seja mais curta, as expectativas e incertezas continuam a desempenhar um papel fundamental nos mercados financeiros. (Por Fernando Augusto Lopes e Rodrigo Petry)
O governo federal submeteu ao Congresso um Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) no qual as receitas igualam as despesas. Contudo, analistas acreditam que essa meta será difícil de atingir, devido ao aumento dos gastos por parte da União e ao ceticismo em relação às medidas para aumentar a receita. O Ministério da Fazenda enfrentará o desafio de elevar as receitas em R$ 168,5 bilhões.
Contrariando a declaração do presidente, a equipe econômica do governo vinha mantendo a posição de que o objetivo fiscal poderia ser alcançado.
“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai fazer. O que posso lhe dizer, é que ela não precisa ser zero. A gente não precisa disso, eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse país”, afirmou.
Lula também enfatizou que o próprio mercado financeiro reconhece a dificuldade de atingir a meta: “Muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que ele sabe que não vai ser cumprida.”