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Pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unesp, em Araraquara (SP), desenvolveram um equipamento portátil capaz de evitar a contaminação de alimentos em tanques industriais que armazenam líquidos, como por exemplo, leite e sucos.
Segundo os pesquisadores, a tecnologia é inédita e capaz de analisar preventivamente áreas microscópicas da estrutura e determinar se regiões, principalmente aquelas em que foram realizadas soldagens, estão suscetíveis à corrosão e enferrujamento, o que poderia abrir caminho para o crescimento de bactérias.
O equipamento permite que as empresas realizem manutenções preventivas e evitem prejuízos como consertos de tanques comprometidos e perda do produto. Ele também atesta sobre a qualidade do material dos tanques.
“Nós conseguimos saber se o material ficou mais ou menos resistente à corrosão após a solda ou o tratamento químico pelo qual ele tenha passado. Ou seja, é possível avaliar se naquele ponto em que foi feito o reparo houve aumento na proteção contra corrosão e, em alguns casos, até prever a durabilidade do material”, explicou o professor do IQ Assis Vicente Benedetti, um dos criadores do aparelho.
equipamento desenvolvido no IQ é uma microcélula eletroquímica portátil que tem na sua extremidade um tubo com espessura semelhante à de um fio de cabelo, por onde passa uma solução de cloreto de sódio (sal de cozinha) que molha a microrregião em análise. O material acelera a corrosão do material a fim de avaliar seu desempenho.
Se a solução salina não consegue atacar de forma tão incisiva a superfície da região analisada, menos corrente elétrica passa por ela, indicando que o material é mais resistente à corrosão. Já se uma quantidade maior de corrente atravessa o local soldado, significa que a região está mais vulnerável. Um microscópio comum pode ser instalado junto à microcélula para observar os detalhes dessa reação.
Durante a pesquisa, o equipamento foi testado para avaliar a qualidade das soldas e do material de tanques da empresa de suco de laranja Citrosuco, nas cidades de Matão, Catanduva e Santos. O aparelho também pode ser utilizado para a avaliação de tanques que guardam outros tipos de produtos, como farmacêuticos, cosméticos, compostos químicos e combustíveis.
De acordo com Luis Henrique Guilherme, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do equipamento, produzido durante seu pós-doutorado no IQ, o ideal seria que as empresas fizessem avaliações das regiões soldadas periodicamente.
“O conserto de um tanque com 400 pontos de corrosão custará cerca de R$ 200 mil e poderá deixá-lo inativo por até duas semanas. Já a manutenção preventiva feita uma vez por ano ficaria em torno de R$ 20 mil e é realizada em apenas um dia. Esses tanques precisam estar protegidos para não enferrujar, pois se isso ocorrer, pode haver a contaminação do produto alimentício no interior dos tanques, sendo necessário o seu reprocessamento ou, em alguns casos, até o descarte”, afirmou.
Guilherme teve a ideia de criar um equipamento portátil durante sua própria experiência profissional na inspeção desse tipo de tanque.
“Eu precisava de algo portátil para levar a campo, pois é impossível tirar um pedaço do tanque para ser analisado dentro de um laboratório, era uma lacuna que nós tínhamos, mas felizmente conseguimos desenvolver esse novo modelo. Atualmente não temos conhecimento de nenhum outro equipamento semelhante no mundo capaz de fazer esse tipo de avaliação dentro de tanques industriais”, revela.
Os tanques de armazenamento são muito utilizados em indústrias alimentícias e são submetidos a procedimentos que podem ser agressivos para a estrutura, como temperaturas extremas (altas e abaixo de zero) para a conservação dos alimentos.
Devido às suas grandes dimensões, que podem chegar a 30 metros de diâmetro e a 50 metros de altura, essas instalações são construídas diretamente no local em que irão operar e são feitas de aço inoxidável que, em teoria, é capaz de resistir à corrosão graças a uma camada protetora à base de óxido de cromo presente em sua superfície. No entanto, estudos já relataram o aparecimento de ferrugem nas regiões onde estão as juntas soldadas.
Segundo o professor Benedetti, não existem normas que regularizem ou obriguem as indústrias a realizar esse tipo de avaliação nas regiões soldadas, o que faz com que algumas empresas, como forma de evitar gastos, não executem inspeções. Com a nova tecnologia, os pesquisadores da Unesp esperam promover uma mudança de comportamento na prevenção desses tipos de danos.
A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma parceria universidade-empresa (IQ/Unesp e Soudap Soldas Sanitárias) com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe).
O novo aparelho tem custo aproximado de R$ 5 mil e já está sendo utilizado no mercado pela empresa parceira, que tem sede em Araraquara.
Por G1 São Carlos e Araraquara